segunda-feira, 3 de maio de 2021

Demência Devastadora

 




Por Simão Pedro

Revista aponta 721 atos de Ricardo Salles contra o meio ambiente

Em 2017 eu fui convidado pelo amigo Fausto Camunha para debater com o então secretário estadual LInk de Meio Ambiente do governo tucano Alckmin, Ricardo Salles, hoje ministro da destruição do meio ambiente do governo Bolsonaro, no seu programa Gente que Fala, na Rádio Trianon. Sim, aquele que disse em reunião ministerial que o governo tinha que incentivar o assunto da #pandemia para “passar a boiada tranquilamente na desregulamentação ambiental”.

Eram dois os assuntos: as acusações e condenação em 1ª instancia por crime ambiental cometido pelo então secretário que alterou o Plano de Manejo da Área da Várzea do Tietê com o objetivo de facilitar o trabalho de empresas privadas mineradoras e de extração de areia. Ele fez isso de uma canetada só, sem consultar os órgãos de controle e de consulta com o o Conselho da APA.

Como sou da Zona Leste e sempre atuei para preservar as várzeas do Tietê e a população do entorno, fui ao programa. O outro assunto era sobre as manifestações em apoio ao golpe contra Dilma Roussef e o secretário era um dos líderes do movimento “Endireita Brasil”, que reunia setores das classes médias na região da Av. Paulista. O cara foi ao programa com a camiseta do movimento.

Concordo com o jornalista Mino Carta em seu editorial da revista #CartaCapital desta semana que traz importante reportagem sobre as ações do ministro: difícil catalogar Ricardo Salles. Seria ele um coxinha – termo já meio fora de moda devido ao sumiço de um certo grupo de pessoas que militavam ou se posicionavam com enorme petulância a alimentar o antipetismo – ou um genocida ambiental fanático por transformar a Amazônia em um deserto?

Fisicamente e da maneira que se veste, se encaixa no figurino mais próximo hoje de João Dória, mas pelas suas ações desde o governo Alckmin se encaixa também no de um fanático a defender desmatadores, mineradores, grileiros, exploradores de madeiras e pecuaristas e toda uma gama de pseudo-empresários que agem ilegalmente a destruir a Amazônia brasileira. Foram essas as impressões que tive do advogado que também carregava sempre um riso irônico e meio sarcástico quando lhe apontava as irregularidades e ilegalidades pela qual militava.

Comportamento irônico e preconceituoso como o que teve quando, no dia 19/04 último, Dia dos Indígenas. Ele ironizou os povos indígenas ao publicar em sua página no #Instagram uma foto de lideranças do Baixo-Tapajós que usavam celular no protesto que fizeram em Brasília contra o PL da Mineração (191/2020) e escrever “Tribo do iPhone”, reforçando preconceitos ao destacar o uso de novas tecnologias pelos indígenas.

Segundo a reportagem assinada por Ana Flávia Gussen, nos últimos 12 meses – desde a fatídica reunião ministerial do “vamos passar a boiada” – que todos tivemos acesso – Salles já passou a boiada. “Foram 721 canetadas. No conjunto entram 76 reformas institucionais, 36 medidas de desestatização, 36 revisões de regras, 34 de flexibilizações, 22 de desregulação e 20 revogaços.”

Segundo Ana Flávia, “o desmonte da fiscalização, do orçamento e das normas na área ambiental teve como consequência um aumento de 216% no desmatamento que atingiu a marca recorde de 810 km quadrados, o avanço do garimpo sobre as terras indígenas e 12% de aumento dos focos de incêndio.” O levantamento publicado por Carta Capital foi realizado pela Associação Nacional dos Servidores de Carreira do Ministério do Meio Ambiente e tem como título “Dossiê: uma Tragédia Anunciada”. Ele será entregue nesta semana para os presidentes do STF, Senado e Câmara dos Deputados e para a Embaixada dos EUA como uma forma de expor à sociedade brasileira e ao Mundo os crimes ambientais do governo BolsoNero.

A reportagem e o documento que ela traz a público certamente irão jogar água no moinho das denúncias contra o ministro e para reforçar a necessidade de uma CPI na Câmara dos Deputados. Na semana passada a Comissão de Legislação Participativa ouviu o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva que comandava a superintendência no Amazonas e foi exonerado após apresentar queixa-crime contra Salles por interferir a favor de madeireiros ilegais na maior apreensão de madeira (43 mil toras) já feita naquela região. O que levou a ministra Carmem Lúcia a pedir apuração ao Ministério Público Federal em ação protocolada pelo PDT no STF.

O ministro não se fez de rogado: foi até o local onde está a madeira e fez uma foto, que correu o mundo, para dizer que ele próprio foi conferir que estava tudo certo com a carga. As perguntas que pairam no ar: quem está por trás de Salles? ele age só para beneficiar “empresários” locais ou também, como Sérgio Moro, defende interesses do Capital norte-americano?

O tema da destruição do meio ambiente levado a cabo pelo governo Bolsonaro veio se parear ao noticiário do genocídio da Pandemia do covid-19 provocado pelo governo e que já matou mais de 400 mil brasileiros depois que o governo Biden dos EUA convocou uma cúpula de líderes mundiais para debater medidas de controle ao desastre climático que ameaça a vida em nosso planeta. As atenções se voltaram para o Brasil e o discurso que BolsoNero iria fazer.

Nosso presidente, com a maior cara-de-pau, tentou se passar por um militante ambientalista enumerando ações governamentais para conter o desmatamento e a poluição, mas recorrendo a medidas e números positivos obtidos pelos governos Lula e Dilma. Voltou a se comprometer a acabar com o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030 (meta apresentada pela presidente Dilma na Cúpula de Paris em 2014), mas, agindo como um chantagista, exigindo um aporte de 1 bilhão de dólares para o governo brasileiro.

Parece que essa era o único objetivo de Bolsonaro e Salles, pegar essa grana. As boas intenções não duraram muito tempo: no dia seguinte ao seu pronunciamento, Bolsonaro cortou mais de R$ 200 milhões destinados ao Ministério do Meio Ambiente.

Enquanto isso, a #FolhadeSãoPaulo traz reportagem de capa hoje sobre o Acordo União Europeia-Mercosul que está parado e virou um espantalho europeu. O acordo comercial, para ser assinado, depende de anexos com compromissos ambientais adicionais do governo BolsoNero, que ao que parece, faz pouco caso das exigências sobre proteções ao clima e meio ambiente, assuntos cada vez mais caros aos governos Europeus e dos EUA sob Biden.

Sob Bolsonaro e seus verdadeiros superministros Salles e Paulo Guedes, os cuidados com a população brasileira estão à deriva e o o meio ambiente está ameaçado. Não nos causa mais perplexidade o comportamento do governo negacionista das crises sanitária e ambiental. Causa perplexidade sim o comportamento de certos empresários que preferem um governo que retira diretos dos trabalhadores para melhorarem suas taxas de lucro do que frear a destruição dos recursos ambientais que poderiam lhes trazer ganhos comerciais se o governo mudasse sua postura destrutiva. Nos resta, aos demais brasileiros, aguardar a CPI do Salles!

Simão  Pedro Chiovetti é sociólogo, ex-deputado estadual por três mandatos e ex-Secretário de Serviços de São Paulo na gestão Haddad. Hoje, Secretário de Movimentos Sociais e Setoriais do PT/SP.

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